Novo ato contra Bolsonaro testa maturidade de aliança com 21 partidos pelo impeachment
Manifestação neste sábado reúne de PT a PSDB, DEM e Novo. Representantes têm discordâncias políticas, mas pedem adesão contra o presidente e em defesa da democracia
A frente ampla formada por lideranças de esquerda e direita que se colocam como oposição ao Governo de Jair Bolsonaro testará outra vez sua união nas ruas neste sábado, dia 2 de outubro. É nesta data que o ato convocado com o mote #ForaBolsonaro reunirá figuras de 21 partidos políticos de diferentes espectros em 167 cidades brasileiras. Em São Paulo, o ato acontece na avenida Paulista. Em comum, representantes dos grupos, que vão do PT, PSDB ao Novo e Podemos, pedirão o impeachment do presidente e a defesa da democracia. Mas o desafio será unificar o discurso entre projetos políticos diferentes, acentuados pela polarização que tomou conta do país durante os últimos anos.
A união entre esquerda, centro e direita é necessária se o objetivo dos partidos é o impeachment de Bolsonaro. Juntos, os 21 partidos representados na manifestação somariam 351 deputados federais na Câmara — o total necessário para a aprovação do processo de impeachment é 342 votos. No entanto, internamente diversas legendas estão em guerra, ou com o pé em duas canoas. Partidos como DEM e PSD também se unem ao protesto, mas ambos têm ministérios no Governo Bolsonaro. O mesmo PSL, por exemplo, tem nomes de oposição ao Governo, como a deputa Joice Hasselman, ao mesmo tempo que abriga o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro , Carla Zambelli e Bia Kicis entre seus parlamentares, fieis escudeiros do presidente.
Já confirmaram também presenças no ato da Paulista nomes dos partidos Cidadania, MDB, PC do B, PDT, PL, Solidariedade, PSB, PSOL, PV, Rede, UP, PCB, PSTU, PCO. Também estarão presentes movimentos populares, como Direitos Já, Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo e Coalizão Negra por Direitos.
As centrais sindicais divulgaram uma nota pedindo “ampliação no espectro político”. “Para derrubar Bolsonaro, é preciso ir além do nosso campo. Não é questão de ideologia, mas sim de matemática. Neste momento, é necessário focar no que nos une, e não no que nos separa”, diz a nota assinada por 10 centrais, entre elas CUT, Força Sindical, e CSP-Conlutas.
O professor de gestão de políticas públicas da USP Pablo Ortellado, vê a chance de dar um passo à frente por uma aproximação mais consistente. “O arco de alianças feito para essa manifestação é muito amplo diante do nosso histórico recente de polarização. É um passo firme na direção da concretização da frente ampla”, explica o professor, que estuda protestos de rua em São Paulo. “É algo realmente novo, que me lembra as Diretas Já pelo caráter suprapartidário. Faz sentido que os democratas, mesmo rivais políticos, se unam para defender o país dos ataques que faz um Governo de perfil autoritário”, acrescenta o cientista político Cláudio Couto.
Couto lembra que o apoio popular precisa ser significativo para a abertura de um processo. Nesse sentido, a união também é essencial. Em 7 de setembro, o protesto contra Bolsonaro organizado por partidos de esquerda e centrais sindicais levou cerca de 15.000 pessoas ao Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, nos números da Polícia Militar. O ato “Nem Lula nem Bolsonaro”, chamado por lideranças de centro e direita, levou cerca 6.000 pessoas à Avenida Paulista cinco dias depois. Em comparação, a manifestação golpista pró-Governo mobilizou cerca de 120.000 pessoas na Paulista, em 7 de setembro, segundo números da mesma PM. “Se conseguirem levar muita gente com esse mote da frente ampla, estará provada a possibilidade de diálogo entre diferentes que conseguem cooperar quando a democracia está em jogo”, sustenta o cientista político.
Fonte: El Pais